Piolhos, pulgas e carrapatos provocam coceiras e, por vezes, doenças. Ensine as características desses animais e como ficar longe deles.
Você pode não ver, mas o piolho, a pulga e o carrapato circulam por toda parte. Os dois primeiros passeiam pelo chão da sala de casa e se escondem nas roupas de cama. As pulgas ainda ficam bastante à vontade em meio aos pelos de animais de estimação, como cachorros e gatos. O carrapato, por sua vez, pode viver em vãos de muros e paredes, jardins e trilhas no meio da mata. Apesar de serem minúsculos, esses animais não passam despercebidos e não brincam em serviço: quando atacam o homem, um dos seus hospedeiros tradicionais, provocam um bocado de coceira. Para piorar, pulgas e carrapatos podem até transmitir doenças quando estão infectados por vírus, bactérias e protozoários. Isso ocorre porque eles passam todo o tempo se alimentando - e o cardápio não é lá muito variado. Os três são hematófagos, ou seja, só se alimentam de sangue, sempre obtido por meio de picadas.
Durante a aula, você deve resistir à tentação de apresentar esses seres vivos como nocivos e do mal. Com esse histórico, a turma pode perguntar o porquê da existência deles, já que, à primeira vista, só atrapalham. "Todos os seres vivos têm uma função no ciclo biológico. A dos hematófagos é a parasitária", explica Júlio Vianna, Ph.D. em Parasitologia e pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), no Rio de Janeiro. Vianna admite que, se esses parasitas externos desaparecessem da natureza, talvez ninguém sentisse a falta deles. "Nem os predadores. Na falta de pulgas e carrapatos, aves como a garça, a galinha e o pardal se alimentam de pequenos roedores, peixes e outros insetos, como os cupins. O piolho, então, não deixaria nenhum bicho na saudade. Ele é o único dos três que não tem predador direto", diz Piolhos, pulgas e carrapatos provocam coceiras e, por vezes, doenças. Ensine as características desses animais e como ficar longe deles.
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O fato de eles cumprirem um papel um tanto desnecessário no ciclo biológico não torna piolhos, pulgas e carrapatos menos importantes para o estudo em Ciências. A bióloga Denise Jardim, coordenadora do curso de formação de professores da editora Sangari, em São Paulo, destaca a importância da temática no currículo do 3º e do 4º ano. "É essencial tratar a relação desarmônica, própria de parasitas, que esses animais estabelecem com o homem."
Rogério Tadeu Sant'Anna, responsável pelo laboratório do Colégio Pentágono, em Barueri, SP, estuda essa problemática enfatizando a importância do bem-estar. "Ao descobrir como agem os piolhos, as pulgas e os carrapatos, a criança começa a entender a relação entre parasitas e saúde e vai tomando consciência sobre o ambiente em que vivemos e os cuidados que devemos tomar", explica o professor. Ele trabalha as pragas urbanas - como pombos e ratos, grandes concentradores de pulgas - e aproveita o contexto local para ensinar sobre os carrapatos. Num parque próximo da escola, vivem várias capivaras, infestadas desses bichinhos, recolhidos por ele para serem estudados em laboratório.
Pulga (Pulex irritans)*
Locomoção Pula até 20 centímetros para cima e
até 35 centímetros na horizontal.
Doenças que transmite Irritação de pele e,
em pessoas mais sensíveis, reações alérgicas.
Tempo de vida De 125 a 510 dias.
Reprodução Sexuada.
Procriação De 20 a 22 ovos por dia.
Se não é possível conviver bem com os três parasitas, o melhor a fazer é conhecê-los em detalhes e saber como evitá-los. Manter bons hábitos de higiene pessoal e no ambiente diminui as chances de ocorrência de infestações, caracterizadas pela presença maciça e pela proliferação descontrolada desses seres. Os especialistas recomendam ainda usar roupas e repelentes que protejam o corpo nos passeios de fim de semana pelo parque ou durante caminhadas pela mata. Vale também dar banhos periódicos nos animais de estimação e vasculhar o pelo deles.
O calor atrai os bichos, mas ter higiene ajuda a evitá-los
De maneira geral, as crianças se interessam pelo assunto e arriscam perguntas bastante interessantes, inclusive sobre as características físicas desses animais - um ponto importante a ser abordado durante o estudo do tema. Você pode orientar pesquisas para que os alunos descubram, por exemplo, o modo de locomoção dos bichos. Que a pulga pula - e como pula! -, a maioria da turma já sabe. Mas os carrapatos e os piolhos nem pulam nem voam. Eles apenas andam! Esses últimos, especificamente, têm como vantagem a habilidade de alpinista, pois escalam os fios de cabelo com suas garras.
Piolho (Pediculus capitis)*
Locomoção Escala os fios de cabelo.
Alimento Sangue.
Doenças que transmite Nenhuma, mas as feridas
que causa podem ser a porta de
entrada para infecções oportunistas.
Tempo de vida 30 dias.
Reprodução Sexuada.
Procriação Até dez ovos por dia.
Tempo de incubação De sete a dez dias.
Tamanho De 3 a 5 milímetros.
Mesmo não conseguindo vencer grandes distâncias, o piolho passa de uma criança à outra com facilidade. Basta um vento ou um contato rápido com alguém infectado - durante a aproximação para tirar uma foto ou se cumprimentar, por exemplo - para se infectar também. Essa agilidade faz com que só as medidas de prevenção não sejam suficientes para evitar o problema da infestação. Essa informação desfaz o mal-entendido de que a pediculose tem uma relação com a falta de higiene.
Um dado curioso para a turma é o número de patas dos bichos: o carrapato, da classe dos aracnídeos, possui oito, enquanto piolho e pulga têm seis - como todos os insetos. "As crianças costumam ficar surpresas ao saber que, apesar de pertencer a essa classe, eles não têm asas", pontua Marina Voos, professora da Escola Móbile, em São Paulo.
Provavelmente, alguma criança irá perguntar por que esses parasitas são atraídos para o ser humano. Explique que todo bicho hematófago vai até o hospedeiro por várias razões. "As principais são a emissão de calor corporal e de gás carbônico pela transpiração", explica o pesquisador Vianna, do IOC. O faro fino de piolhos, pulgas e carrapatos identifica essas fontes de atração tanto no ser humano como nos animais, e não só nos de estimação, mas em cavalos, bois e porcos. Não por acaso, no verão aumenta principalmente o número de casos de crianças com piolhos. Nessa estação, os pequenos brincam mais ao ar livre e acabam tendo mais contato uns com os outros.
A EMEIEF Professora Maria Cristina Soares Fróes, em Itaboraí, na região metropolitana do Rio de Janeiro, viveu essa situação, enfrentada em conjunto por professores, estudantes e pais. Diante de um surto, a escola procurou o aprimoramento. Os professores participaram de uma capacitação no IOC e usaram o que aprenderam para organizar atividades de produção de boletins informativos com as crianças. O instituto também ofereceu palestras para as famílias, além de distribuir cartilhas e pentes finos aos alunos. "Usamos um bimestre para abordar o tema e, no fim, montamos uma exposição para a comunidade escolar com todos os trabalhos realizados", conta Adriana Rodrigues Soares, diretora da unidade de ensino e professora de uma turma de 3º ano. O problema foi resolvido e deixou um saldo positivo para todos. A busca de soluções não se limitou aos comunicados da escola para as famílias. O conteúdo ganhou destaque na sala de aula e levou a garotada a refletir sobre um assunto que tem impacto direto no dia a dia.
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Carrapato-estrela (Amblyomma cajennense)*
Locomoção Caminha na pele e se aloja
em pernas, barriga, antebraços e costas.
Doenças que transmite Irritação de pele
e, às vezes, febre maculosa.
Tempo de vida Até 3,5 anos.
Reprodução Sexuada.
Procriação De 6 a 8 mil ovos, uma única vez na vida.
Tempo de incubação De 60 a 70 dias.
Tamanho De 5 a 25 milímetros.
* Consultoria Júlio Vianna, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), e Marcos Engelstein, biólogo e professor da Escola Móbile, em São Paulo, SP.
BIBLIOGRAFIA
Atlas Visuais - Animais, 64 págs., Ed. Ática, tel. 0800-115-152, 36,90 reais
Como Vivem os Insetos, Almenor Tacla e Maria Cecilia Morello, 56 págs., Ed. Scipione, tel. 0800-161-700 (edição esgotada)
Dinâmica das Doenças Infecciosas e Parasitárias, José Rodrigues Coura, 322 págs., Ed. Guanabara Koogan, tel. (21) 3543-0770, 139 reais
Parasitologia - Parasitas e Doenças Parasitárias, Luis Rey, 856 págs., Ed. Guanabara Koogan, 276 reais
Fonte: Revista Escola - Editora Abril